O DESFAZER DAS COISAS E AS COISAS JÁ DESFEITAS
POEMAS DE NENHUM FUTURO
Os poemas excecionais que ainda não puderam ser escritos
dormem algures num tempo sem pilares nem luz
Sabemo-los enterrados no mundo porque os respiramos e
aparecem na primavera periódica da esperança – nada do
que se transfigura nada do que protesta em toada oracular
nada do que recorda a delicadeza dos mortos a sua
cinematografia desleixada nada que estabeleça
grandezas intransponíveis num pomar de sensações –
nada disso mil vezes repetido se perderá da luz – Outros
poemas nunca serão escritos e permanecerão as portas
fechadas de uma grande humanidade virtual – alguns
serão tentados em diversas línguas – Um transfundo
arrebatador desfaz o cânone da música os desfechos –
será um gáudio de tópicos disjuntos – visões em versos
apenas tentados – mal escritos ou inimagináveis
A MEDIDA DE TODAS AS COISAS
Não conseguiríamos localizar o mundo das coisas reais
se não categorizássemos pelo impacto a aparição das coisas –
as forças invisíveis ao olhar e as forças invisíveis à mente
O filme das máquinas que voam e o filme das que rastejam
supõem uma artificialidade agressiva algures – esconderijos
que nos traem quando o real abre a boca cheia de evidências
O que os olhos veem são substâncias que esvoaçam triunfantes
e sobre nós pousam cifradas e levíssimas – Há uma atração
entre as aparências fugidias – a música do conluio
dançando nas camadas do ser enquanto procuramos o ser
Chegamos a conclusões precárias já no interior da linguagem
Não mais as separamos da mente – que as coisas policromas
se abrem à luz tanto como à tempestade que as desfaz
enquanto nós somos a medida das coisas aparentes